Na teoria, o planejamento urbano é um processo de elaboração de soluções que visam tanto melhorar ou requalificar uma área urbana já existente, como também criar uma nova urbanização em determinada região. Como disciplina e como método de atuação o planejamento urbano lida com os processos de produção, estruturação e apropriação do espaço urbano. Nesse sentido, seu objetivo principal é sinalizar quais são as medidas que devem ser tomadas para melhorar a qualidade de vida dos habitantes, incluindo questões como transporte, segurança, oportunidades de acesso e até mesmo a interação com o meio ambiente natural.
No processo de planejamento urbano lida-se, portanto, com os problemas advindos da urbanização como poluição, congestionamentos, vazios urbanos, impactos ecológicos, tornando-o fundamental no atual contexto em que muito se discute sobre o futuro das cidades e as aspirações de sustentabilidade e mobilidade como forma de combate às alterações climáticas.
O planejamento urbano é uma atividade essencialmente multidisciplinar, podendo contar com sociólogos, historiadores, economistas, geógrafos etc., além do urbanista. No seu processo, também são incluídas autoridades locais, sejam do governo, empresas privadas ou organizações internacionais. Quando relacionado a um governo, o planejamento urbano pode gerar um documento no qual estão contidas todas as bases e regras para o desenvolvimento de determinada região, o que conhecemos como plano diretor.
A ideia do planejamento urbano está presente desde os primeiros indícios de civilização. Na Grécia antiga, por exemplo, foram desenvolvidas teorias e ideias sobre o uso ideal da terra e a localização de vias e construções, assim como nas civilizações pré-colombianas que construíram suas cidades considerando um planejamento urbano com sistemas de esgoto e de água corrente, como Tenochtitlan, no México. Entretanto, seu conceito só foi oficializado no século XIX, em decorrência da revolução industrial que trouxe novas dinâmicas para o ambiente urbano criando a demanda de um desenho claro para a funcionalidade das cidades.
Foi nesse período que alguns exemplos célebres surgiram, como o Plano Cerdá em Barcelona (1860), um dos primeiros grandes marcos do que se chamava "urbanização". Nascido da urgência de transformar a cidade, o plano criado pelo engenheiro e urbanista Ildefonso Cerdá seguia uma ideologia de “urbanismo humanista”, abrindo ruas, exigindo zonas verdes dentro das quadras, definindo alturas máximas e assegurando equipamentos comunitários a certas distâncias, além de afastar as zonas industriais do centro da cidade.
Nessa mesma época, destacou-se também o remodelamento urbano de Paris (1954), sob o comando do prefeito Georges-Eugène Haussmann. A pedido de Napoleão III e sob o pretexto sanitário, devido ao alastramento das epidemias, abriram-se largos bulevares ladeados por edifícios neoclássicos regulares, adicionando rotatórias, monumentos e parques. Uma mudança ousada que, por um lado, qualificou transporte, saneamento e lazer, e por outro, elevou os preços das moradias aumentando a segregação. Paris é um exemplo que destaca a relação entre o planejamento urbano e sua importância como estruturador das dinâmicas nas cidades.
Já no século XX, com o surgimento do movimento moderno, o planejamento urbano passou a incorporar também a função de criar cidades novas a partir do zero. Na discussão sobre como seria possível elaborar cidades mais funcionais, destaca-se o papel da Carta de Atenas (1933), como resultado do IV Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (CIAM). No documento redigido por Le Corbusier recomendava-se uma nova forma de planejamento urbano que dividiria a cidade em áreas residenciais, de lazer e de trabalho, preceitos colocados em prática no plano piloto para a construção de Brasília, em 1950, elaborado por Lúcio Costa e, até hoje, um dos grandes modelos de cidade modernista no mundo.
Como é possível perceber nos exemplos acima, os preceitos que regem o planejamento urbano se alteram conforme surgem novos desafios e mudanças de pensamento, colocando as cidades sob constante análise. Se há décadas atrás o foco do planejamento urbano era criar novas cidades, hoje em dia, a forma de atuação mudou drasticamente. Atualmente, o principal desafio é trabalhar com a infraestrutura existente no intuito de criar cidades mais resilientes e sustentáveis, que promovam o encontro entre os habitantes e a reconexão com a natureza.